quarta-feira, 23 de abril de 2014

Palavras de Ninguém

Stuart Brisley


Só são adorados os poetas mortos ou distantes
Aqueles os quais não se identifica a fraqueza em si
Mas se abstrai como reflexo daquele que a lê
Somente tocam os corações poesias órfãs
Ao ponto que o autor pouco importa, seja Clarice ou Pessoa
Só vale se identificar com a fragilidade, não o indivíduo
Pois o direito à vulnerabilidade é só nosso ao compreender
Jamais o do outro ao sofrer, e sobre isso sentar e escrever
Só é dado o direito da sensibilidade aos excluídos desalmados
Aos quais se vê o resultado da mais fina arte
E não a humilhante face do fracasso humano
Van Gogh só vale muito depois que não mais incomoda

No fim, a arte é a parte aturável do insuportável artista
Pois com tamanha afronta, ousa demonstrar o omitido
Aquilo que, de fato, todos tentam negar a si mesmos
Afinal, num mundo de mentirosos sobre seus sentimentos
Os descarados verdadeiros devem ser apedrejados
Não se pode levantar suspeita da vulnerabilidade de todos!
Arriscar destruir a frágil máscara da hipocrisia social
Pecadores aqueles que assumem o que tanto escondemos
Num mundo de falsidades, os sinceros são alvos fáceis

E assim se mantém a suave ilusão
De que não há errados
Senão os que assumiram a culpa

De serem humanos