sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Disinganno

Disinganno - Franschesko Kvirolo


O que tu fazes reverbera
  O que dizes repercuti
    Queria eu não ver
      Ou melhor, não querer

Mas sinto, e percebo
  O que fizestes com o que sobrou de mim
    Sujando e queimando os fragmentos restantes
      Espalhando ao vento como se nada fosse

Páginas manchadas de desvalores vãos
  Se confirmara meu maior temor
    Provoquei, vi e vivi; não venci
      O amor não venceu, mas sua validade

(só não pra mim)

Gostaria de apontar as inconsistências
  Como se surtisse algum mero efeito
    Nada de errado aconteceu afinal
      Uma vez mais, um desengano, nada fatal

Me julgue fraco como quiser
  Só não vejo em ti a mesma força
    De encarar os fatos de forma crua
      Ver que nunca fui culpado por ilusão tua

E das minhas me culpo, num ciclo infinto
  Gradativamente eu tento, e aprendo
    As vezes creio que já nem sinto
      Por pouco tempo, um segundo pacífico

(quem dera)

Antes pensasses como algo vão e tolo
  Com leveza os problema tão mínimos
    Antes visses como algo grandioso
      Relevando o que não vale a pena ser sentido

Tudo sempre fora assim, mal encaixado
  O avesso no verso e o vice no mandato
    A cada passo distante, um descompasso
      Uma total distorção do leproso passado

Quem dera eu, não te afetasses nem mais um pouco
  Assim não me afetarias com tuas reações desmedidas
    Dispersemos, aprendo a relevar, continuando a velha luta
      Em algum momento vou ter de me superar

(...assim espero)

Gostaria que tiveste capacidade como a minha
  Não te julgo, nunca foi contra a sua palavra
    Esse sempre foi o problema, elas sempre valerão mais
      Nada jamais sobrepujará teu orgulho

Mas o ego é uma coisa solitária
  Que assim seja, e assim será
    Continuo desatando nós, nós por nós
      Incrível quantas voltas dei em tão pouco tempo

A rede não me segura mais, estou livre
  Como sempre estive, os grilhões desfaço
    Condenado a responsabilidade de tal arbítrio
      Do começo ao fim, no total desenlaço

(desExistência rExistência)

   

domingo, 2 de fevereiro de 2014

tormenta

black wave - kuldar leement


a verdade é que tenho andado doente

tu sabes, aquela dor aguda
dizem que acontece como um raio
você não vê, não ouve e não sente
é tudo tão rápido que apenas se da conta
quando se percebe estirado no chão
enrola a língua e sequer pode falar

não é exatamente esse momento que importa
a eletricidade quando passa com força brutal
deixa marcas e efeitos que só serão sentidos
quando tudo passar

ou melhor
quando não passar

definitivamente me afetou a visão
quando veio o segundo raio
sempre pode cair duas vezes
no mesmo lugar
mas a segunda vez é totalmente diferente

o que ele deixa
ele leva

a não ser as marcas e efeitos
então você fica doente

com a visão prejudicada
te confundi em todo lugar
me iludi tentando te achar
sabe, podemos ser muito criativos
em sonhos de esperança
afim dos efeitos atenuar

pintei a lua em todo lugar
afinal, já era dia, não podia mais te encontrar
minha maior escuridão era solar
pois me tirou teu brilho

garota, estou doente
e como gostaria não estar...
e tu não estás

tu sempre consegues se curar
não te afetou da mesma maneira
tua doença é outra,
talvez eu só tenha sido uma das ilusões
mas passo rápido, como um relâmpago
sem o solo tocar
nem sentes
e o trovão só vem para incomodar

outro efeito é a perda do tato
não é possível lidar com outros da mesma forma
simplesmente falta a sensação do toque
minha mão é pesada
procurando o que já teve
sem sentir o fogo queimar

sei que existe cura
deve haver uma cura

se ao menos eu parar de me envenenar
com pequenas doses de doces sonhos
fico a expectativa de um por do sol
para o céu obscuro revelar
mas sei que assim como tem sido
será uma noite sem luar