quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

realidadeCadência

Roberto Ferri


sou eu ou sou a arte?
tenho substância enquanto vivo
ou vivo apenas enquanto
a morte se faz substância?

me faço na construção de meu intento
porém me desfaço na paz e me reinvento
de que vale a poesia dos vales sombrios
perante a dualidade de um sentido pleno?

me faço enquanto faço
queria mesmo é me desfazer
não precisar sentar e sangrar
em frente a máquina de escrever

espero, não; almejo
queria poder dizê-lo
mas a verdade é que
não tenho para quem dizer

tais letras de cores rubras
escorrem sem sentido
por entre as engrenagens
da tão imperfeita máquina

o som de cada tec marca o tempo
gera um vácuo do desperdício
gera uma matéria de aproveitamento
mas ainda se faz,
sem me deixar ser

sou enquanto destruo
tanto quanto quando crio?
a perspectiva do que consegui
soa nada mais que o eco das perdas
sons não proferidos
e mais marcas deixadas

constante se faz a vontade
de dizer aquela maldita palavra
enquanto faço rodeios
por não ter flechas em minha aljava

ritmo inconstante das teclas
me perdendo no compasso
sempre no momento errado
atrasado, pé atrás de pé
a cada passo

um sacrifício sem deuses
votação sem eleito
realidade em prisma
sonho desfeito

faço
finjo
ajo
crio

nada

   

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