segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Vate

Günter Brus - self - mutilation

Nunca confie nas palavras de um poeta

Não o permita divagar, mantenha a réplica direta

Doces versos feitos de amargos venenos
Visão romantizada de um mundo imperfeito
Impossível crer em sua hipocrisia assumida
Falsidades que são por deveras sinceras
Expressando sentimentos de terríveis quimeras

Com suas dolorosas mentiras verídicas
Disfarçadas em odiosas poesias apaixonadas
Rogador intenso de tola fé desesperada
Autêntico admirador do puro desprezo
Na esperança de manter o sentimento aceso

Verdadeiro além da conta para ser real
Amor caro demais para ter qualquer valor
Transforma a realidade numa grande ilusão
Fazendo da distância uma sutil proximidade
Com buscas que almejam além do mar
Sem sequer conseguir sair do lugar

Impossível compreender seu coração
Uma alma desvairada e sem limites
Transitando entre os vivos e os fantasmas
Não é um homem, um imaturo pedante
Amargo demais para atrair com sua jovialidade
Infantil demais para encantar com sua maturidade

Fera traiçoeira acorrentada, mas perigosa
Como confiar se nele é possível sentir o cheiro
De seus medos e mais profundos anseios
Fascina com luz para esconder tamanha sombra
Não faz sentido, tão pouco se faz sentir
Tristonho menestrel mudo, habilidoso e prolixo
Tornando cada detalhe da vida num grande capricho

Sujo, desgastado pelo tempo
Desbastado nos golpes da vida
Pueril vagante, insensível vulnerável
Perdido em si mesmo, sem mapa ou tesouro
Frívolo emotivo de extravagante retrato
Mártir insano traidor de si mesmo
Declarando teatrais angústias a esmo

Rasgue e queime cada uma destas páginas

Jamais acredite em uma só gota de suas lágrimas
       

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