segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fiddler's Green



Em suas viagens por vezes ela se põe a pensar.
Sobre quão longe pode ela estar de seu querido amado.
Através do horizonte é possível apenas ver uma tênue linha que liga o mar e o céu. E como um pequeno borrão de tinta, ao longe é possível ver seu veleiro.
Nele vela seu maior segredo, a lembrança de um local tenro e irreal. O qual ela sempre pode visitar, mesmo parecendo tão etéreo e volátil.
Como um novelo ela se desenrola deitando sob o céu pálido, tão claro que lhe incomoda os olhos. Solta a deriva reflete se as coisas não são mais as mesmas, ou se tudo se mantém tão intenso apesar da aparente calmaria.

Com a noite chegando ela acende uma vela, e se deixa hipnotizar pela chama débil e tremula. Seus olhos vidrados revelam a chama interna, e mesmo com o vento aquela tímida centelha luminosa não se apaga.
Logo o fogo se revela uma borboleta ardente a fugir de seu suporte e com o olhar ela acompanha sem pensar em nada. Se deixando levar pela ilusão fantástica segue a borboleta com o olhar, sem se dar conta que já não está mais presa ao seu suporte, assim como ela.

Flutuando atrás daquela faísca dançante ela vê cair o véu da realidade, viajando para além de apenas memórias. Ela chega em um lugar, deslocado no infinito dentro de si mesma. Um lugar do qual ela nunca irá esquecer o caminho. Com a forma de um corvo, a viajante pousa sobre uma árvore dentro desse paraíso surreal. A paisagem é de um parque aconchegante, com luzes douradas e uma neblina sutil. Não está frio nem quente demais, e todas as árvores se encontram em tons vivos pontuadas por flores, que agora já forram o chão.
Se transformando em uma coruja, voando pelo parque, através de seus olhos de pássaro ela vê o eco de um movimento passado. Um vulto estava na ponte observando as pedras, outro subindo as árvores e outros nos brinquedos dos parques. São como passados acontecendo simultaneamente.
A jovem volta a sua forma normal ao avistar bem a sua frente, um garoto com a mão no peito de um sorriso suave. Balançando suavemente ele a convida a se aproximar, fazendo com que ela alivie suas dúvidas.

"Eu estou sempre aqui"

Sentando-se no balanço do lado ela se sente segura novamente, recostando-se sobre o ombro do rapaz. Os dois conversam por horas, dias, séculos. Ela desabafa seus anseios, sobre ter vontade de correr o mundo, mas ter medo de tropeçar, de cair no vazio do esquecimento. Ele se levanta, estende a mão e diz:

"Corre comigo"