segunda-feira, 18 de junho de 2012

A sombra da lua



Em uma noite fria de ventos cortantes, os ventos assoviam ao passar carregando um vulto. A Lua se esconde timidamente por entre as sombras formando um fino "c" brilhante no céu profundo como um abismo para o infinito. Uma espessa neblina inebriante traz o cheiro silvestre despertando desejos escondidos.
No alto de um morro entre a selva de pedra e um pequeno bosque se encontra em repouso a presa do espectro, deitada sob um fino lençol de seda recebe a luz da lua pela fresta da janela aberta. A névoa passa suavemente pelo batente escorregando para dentro e se espalhando pelo cômodo. Junto, acompanhando o fluxo, vem a sombra de uma tentação, um íncubo vagante.

Ele fica por um tempo a observar a vítima, ouvir sua respiração, sentir a vida pulsando. O tempo passa e ele sequer percebe o quão hipnotizado ficou por sua beleza. A donzela de aparência delicada exala juventude em sua face angelical, de pele pálida como marfim e cabelos castanhos escuros como mogno. Feito uma boneca de porcelana,seu corpo está delicadamente disposto como se colocado com muito cuidado, coberto deixando-lhe a mostra apenas os ombros desnudos e o macio pescoço agradavelmente torcido para que a cabeça repouse sobre o travesseiro macio.

O estranho visitante se põe a flutuar sobre a tenra jovem e com um melodioso sussurro em seu ouvido invade sua mente, e adentra em seus sonhos.
O provocante íncubo então tenta, como nanquim em água, tirar toda a pureza da jovem, contaminá-la com seus venenosos impulsos. Mergulhando para as profundezas mentais ele a encontra e se prepara para começar possessão, mas se depara com algo que não esperava.

O semblante a jovem delicada muda quando ela abre os olhos e o encara, com um sorriso sinuoso nos lábios, se levanta e se aproxima do que até então era seu predador. O demônio surpreso congela e apenas observa, a cada passo a presença da jovem se tornar mais sombria e sensual. A turva visão onírica começa a tomar tons quentes e a névoa se torna leve e quente formando pilares de vapor. Os dois ficam a se encarar numa distância de um palmo entre os lábios, e ele compreende que está de frente para um igual, se aproxima e beija a súcubo que o seduz e uma forte sensação de calor queima por dentro das duas almas.

E com um susto um jovem rapaz acorda de seu sono profundo, olha para a lua crescente como uma cicatriz no céu, e se pergunta se a jovem do sonho era real e se ele a veria novamente...
      

sexta-feira, 8 de junho de 2012

αλήθεια


"Certo dia em minhas viagens mentais alcancei a grande porta, foi uma visão muito além de aterradora. A porta da verdade me chocou.
Outra vez me deparei alcançando-a e a reação foi extremamente oposta.
O quão incrivelmente maravilhosa a porta da verdade se prostrava em minha frente.
Por vezes e mais vezes minhas reações alternavam com as informações, com as luzes e sombras, em casos duvidei se a porta era a da verdade de fato, outras vezes duvidei que realmente tivesse a alcançado.

Mas de todas as vezes em que encarei a grande porta o que realmente mudou? Eu ou a porta?"

"Você é a porta."