sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Libertas Quae Sera Tamen



Falam que se você não se amar 
ninguém te amará. 

Não é verdade. 

As pessoas te amarão, 
você só não verá, 
não se dará o crédito 
por merecer aquele amor.
Pelo medo irá duvidar 
dos sentimentos dos outros, 
os afastando aos poucos.

Quem não se ama 
não consegue acreditar no amor 
dos outros. 

Acha sempre que é interesse ou falsidade,
 prefere crer que está tudo errado, 
que tudo foi uma grande mentira. 
Alimenta o ciúme, 
a inveja e o ódio, 
se corroendo por dentro, 
jogando a culpa dos seus problemas 
em quem tenta ajudar.

Não existe amor 
para quem não se ama, 
infelizmente 
para os que estão em volta 
existe, 
e é desprezado.

Cada um é o capitão de sua alma,
dono de seu destino. 
O único que pode te salvar 
de suas emoções e defeitos 
é você mesmo...

.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Fiddler's Green



Em suas viagens por vezes ela se põe a pensar.
Sobre quão longe pode ela estar de seu querido amado.
Através do horizonte é possível apenas ver uma tênue linha que liga o mar e o céu. E como um pequeno borrão de tinta, ao longe é possível ver seu veleiro.
Nele vela seu maior segredo, a lembrança de um local tenro e irreal. O qual ela sempre pode visitar, mesmo parecendo tão etéreo e volátil.
Como um novelo ela se desenrola deitando sob o céu pálido, tão claro que lhe incomoda os olhos. Solta a deriva reflete se as coisas não são mais as mesmas, ou se tudo se mantém tão intenso apesar da aparente calmaria.

Com a noite chegando ela acende uma vela, e se deixa hipnotizar pela chama débil e tremula. Seus olhos vidrados revelam a chama interna, e mesmo com o vento aquela tímida centelha luminosa não se apaga.
Logo o fogo se revela uma borboleta ardente a fugir de seu suporte e com o olhar ela acompanha sem pensar em nada. Se deixando levar pela ilusão fantástica segue a borboleta com o olhar, sem se dar conta que já não está mais presa ao seu suporte, assim como ela.

Flutuando atrás daquela faísca dançante ela vê cair o véu da realidade, viajando para além de apenas memórias. Ela chega em um lugar, deslocado no infinito dentro de si mesma. Um lugar do qual ela nunca irá esquecer o caminho. Com a forma de um corvo, a viajante pousa sobre uma árvore dentro desse paraíso surreal. A paisagem é de um parque aconchegante, com luzes douradas e uma neblina sutil. Não está frio nem quente demais, e todas as árvores se encontram em tons vivos pontuadas por flores, que agora já forram o chão.
Se transformando em uma coruja, voando pelo parque, através de seus olhos de pássaro ela vê o eco de um movimento passado. Um vulto estava na ponte observando as pedras, outro subindo as árvores e outros nos brinquedos dos parques. São como passados acontecendo simultaneamente.
A jovem volta a sua forma normal ao avistar bem a sua frente, um garoto com a mão no peito de um sorriso suave. Balançando suavemente ele a convida a se aproximar, fazendo com que ela alivie suas dúvidas.

"Eu estou sempre aqui"

Sentando-se no balanço do lado ela se sente segura novamente, recostando-se sobre o ombro do rapaz. Os dois conversam por horas, dias, séculos. Ela desabafa seus anseios, sobre ter vontade de correr o mundo, mas ter medo de tropeçar, de cair no vazio do esquecimento. Ele se levanta, estende a mão e diz:

"Corre comigo"
            

segunda-feira, 18 de junho de 2012

A sombra da lua



Em uma noite fria de ventos cortantes, os ventos assoviam ao passar carregando um vulto. A Lua se esconde timidamente por entre as sombras formando um fino "c" brilhante no céu profundo como um abismo para o infinito. Uma espessa neblina inebriante traz o cheiro silvestre despertando desejos escondidos.
No alto de um morro entre a selva de pedra e um pequeno bosque se encontra em repouso a presa do espectro, deitada sob um fino lençol de seda recebe a luz da lua pela fresta da janela aberta. A névoa passa suavemente pelo batente escorregando para dentro e se espalhando pelo cômodo. Junto, acompanhando o fluxo, vem a sombra de uma tentação, um íncubo vagante.

Ele fica por um tempo a observar a vítima, ouvir sua respiração, sentir a vida pulsando. O tempo passa e ele sequer percebe o quão hipnotizado ficou por sua beleza. A donzela de aparência delicada exala juventude em sua face angelical, de pele pálida como marfim e cabelos castanhos escuros como mogno. Feito uma boneca de porcelana,seu corpo está delicadamente disposto como se colocado com muito cuidado, coberto deixando-lhe a mostra apenas os ombros desnudos e o macio pescoço agradavelmente torcido para que a cabeça repouse sobre o travesseiro macio.

O estranho visitante se põe a flutuar sobre a tenra jovem e com um melodioso sussurro em seu ouvido invade sua mente, e adentra em seus sonhos.
O provocante íncubo então tenta, como nanquim em água, tirar toda a pureza da jovem, contaminá-la com seus venenosos impulsos. Mergulhando para as profundezas mentais ele a encontra e se prepara para começar possessão, mas se depara com algo que não esperava.

O semblante a jovem delicada muda quando ela abre os olhos e o encara, com um sorriso sinuoso nos lábios, se levanta e se aproxima do que até então era seu predador. O demônio surpreso congela e apenas observa, a cada passo a presença da jovem se tornar mais sombria e sensual. A turva visão onírica começa a tomar tons quentes e a névoa se torna leve e quente formando pilares de vapor. Os dois ficam a se encarar numa distância de um palmo entre os lábios, e ele compreende que está de frente para um igual, se aproxima e beija a súcubo que o seduz e uma forte sensação de calor queima por dentro das duas almas.

E com um susto um jovem rapaz acorda de seu sono profundo, olha para a lua crescente como uma cicatriz no céu, e se pergunta se a jovem do sonho era real e se ele a veria novamente...
      

sexta-feira, 8 de junho de 2012

αλήθεια


"Certo dia em minhas viagens mentais alcancei a grande porta, foi uma visão muito além de aterradora. A porta da verdade me chocou.
Outra vez me deparei alcançando-a e a reação foi extremamente oposta.
O quão incrivelmente maravilhosa a porta da verdade se prostrava em minha frente.
Por vezes e mais vezes minhas reações alternavam com as informações, com as luzes e sombras, em casos duvidei se a porta era a da verdade de fato, outras vezes duvidei que realmente tivesse a alcançado.

Mas de todas as vezes em que encarei a grande porta o que realmente mudou? Eu ou a porta?"

"Você é a porta."
           

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Garota das penas negras



Inconstante, inquieta, a garota de olhar penetrante e lábios pequenos cogita o quanto se desperdiça.
As vezes suas penas manchadas pela vida parecem espinhos, Schopenhauer sabe bem.
A necessidade de se sentir viva a torna impaciente, se apegando ao que a faz sentir, seja o que for.
A dor acorda de qualquer ilusão, ela que o diga, guardando suas dores em frascos e tomando em doses homeopáticas.
Ela transforma tudo aquilo em pérolas, fechada dentro de sua concha.
Transparece uma segurança e frieza que dão medo.
É defesa. É teste. É provação.
Mas não se limita a tal.
É um temporal.
É chuva pro bem e pro mal. ...com medo da calmaria.
Sabendo o quanto a vida é inconstante tenta fugir das utopias.
Não se mistura ao todo, não se mantém presa ao chão e não se perde no ar.
Voa inconstante tentando se achar.
Parece pequena esta ave, mas possui um semblante poderoso.
Conserva um fogo muito maior.
Tudo o que quer é não ficar pior.
Não mais.
Nevermore.

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Fendas

M.C. Escher - Covered Alley in Atrani, 193


Eu sei reconhecer pessoas amargas, ou melhor, amarguradas.
Esse leve toque cítrico que me desperta curiosidade, me atrai.

Café.

Sempre vi as pessoas como o mais transparente dos cristais,
mesmo que me vejam como uma turva imagem onírica sem muito nexo.

Disforme.

Acho que seja o natural, procurar semelhantes.
Alguém que conheça das mesmas dores,
que entenda de provações semelhantes.
Talvez em uma tentativa de me entender,
compreender o ser que está refletido nos outros.

Pessoas com os olhos que,
ao se encontrarem aos meus,
fazem até eco de tamanha profundidade.
"Se você encara o abismo por muito tempo..."

A batalha dos olhares é um desafio de empatia:
Até que ponto você pensa me entender?
Não sei, mas não me canso de tentar saber.

As pessoas podem esconder da forma que quiserem,
eu vejo as feridas através dos panos.
E isso mexe comigo, a mente é um labirinto,
porém eu não fico procurando a saída.

Reparo nas ranhuras nas paredes.
Tudo que passa deixa uma marca, um rastro.
Muitos nem notam, mas eu tateio no escuro,
e tento sentir a profundidade de cada fenda.

Jogo uma tocha no penhasco escuro,
e me vejo pegando a mesma tocha lá no fundo.

Talvez seja apenas eu me projetando nos outros até achar a forma correspondente.
Mas nada corresponde ao que se passa em minha mente.

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Not even a bang



The black hole of creation
Destruction to generate
Fear that shapes the love
Purifying agony
The great mix from an explosion
Scream in silence
Total consummation for renovation
Putting all elements together
Draining every energy
Absorbing the soul
Feeding the chaos
Reshaping the order
But what is being in a invisible place,
Where even the light can't pass through?
 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Farol de Alexandria



Quão vazia é uma mente que se fecha a tudo que pode entrar com medo de mudar...

Novas informações sempre são boas, novas idéias, novos argumentos, novos dados, novos conceitos, novas perguntas
Achar que pode existir um quebra cabeça de uma peça só
Crer que o que se sabe responde a tudo, e para cada lacuna forçar a forma oblíqua
Fazer tudo se ajustar ao que pensa e não o contrário
Limitar o próprio universo e sua compreensão do mesmo
Não querer aproveitar o sabor do mistério, a diversão da pesquisa
De cada lapidada no mármore bruto que é nossa visão de mundo
Cada acrescento na receita alquímica do conhecimento
Sem medo de dosar o negativo
Ouvir as críticas e colocar a prova a firmeza do muro construído
Do templo erigido a partir das idéias
Não ter medo de testar seu argumento contra os que vivem sobre uma fortaleza de certezas
Descobrir suas falhas de raciocínio
Trocar cada bloco falho por um novo mais sólido
Formar uma torre que te permita ver mais além
Ver mais além no espaço e no tempo
O que está além
O que pode vir
O que ficou para trás
Ligar os pontos
Tecer a trama
Mas não deixar nenhum nó que não posso ser desfeito
Para se refazer se for errado
Sempre aprimorar as ligações
Queimar e recriar caminhos para os neurônios
Adicionar filtros e mais filtros, lentes e mais lentes
Ver não só além, mas também mais profundamente
Mais perto
Com mais precisão

Ainda assim todos preferem alucinógenos, repostas fáceis e confusas para não ter que entendê-las e assim manter-se seguro em seu frágil abrigo, porém grande, monumental, com todos segurando suas paredes para não cair. Uma estrutura de massa humana, com medo de soltar e o teto cair-lhe sobre a cabeça. E esse abrigo não possui janelas, não podem visualizar a incerteza, a construção e renovação das mentes ao redor, com sólidas pontes, e grandes possibilidades.

Basta soltar, e moldar por sí próprio...