quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A distância de um olhar

Subway scalator - João Almeida


As vezes eu falo de ocasiões fortuitas
Falo de emoções instantâneas
Grandes aparições
Quando há uma grande surpresa

O engraçado é quando eu prevejo o futuro
E apenas confirmo tudo que descobri em teus olhos
Apenas reafirmo aquele reflexo meu que vi neles
E uma vez mais me vejo sem graça

Sempre parece que estou no lugar certo na hora errada
Parece que perdi meu trem o qual me levaria a ti
Como se eu tivesse descido na estação errada
Voltado e subido novamente
Mas acabo chegando atrasado
Por perder-me no caminho
Nos desencontrarmos por uma estação

E cá estamos
Nos olhando
Nos reconhecendo

Como se nos tivéssemos visto em um sonho distante
Uma lembrança vaga mais profunda que uma memória
Algo que eu fui, algo que tu fostes
Algo de nós como um projeto inacabado
A sombra de uma torre que nunca existiu
Senão nos sonhos

Senão no espaço indeterminado de um coração

Senão na imensurável distância de um pensamento

Nosso amor ficou preso no infinito
    

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nó(s)



Ciranda maldita
Dança macabra
Quadrilha insana
Na qual nos perdemos
Ninguém vê os passos
Dançamos vendados
Todos ligados com todos
Cada um de uma forma diferente
O problema são os nós
Os nós que formam o todo
O eu+você
O eu+ela
Tudo fora de compasso
Mas ao som da mesma música
Dissincronia organizada
Todos dando as mesmas tropeçadas
Alguns se trombam
Outros se abraçam
Há aqueles que se quebram
E os que caem sobre seus cacos
Mas a dança não para
Até que se desatem os nós
Até que termine a música
O silêncio é a morte
   

terça-feira, 13 de setembro de 2011

PazCiência


The Burning Monk, by Michael Browne


difícil de lidar é o vício de amar
as pessoas reclamam que amam e desamam
nem compreendem o que sentem
eu sei que amo
vários detalhes de várias pessoas
mas não é paixão
sei muito bem o que é
essa armadilha
é amor
zelo
é querer cuidar, proteger, compreender
você pode deixar de me amar
mas infelizmente
o que eu sinto nunca vai mudar

na incompreensão do amor próprio ou alheio
as pessoas mascaram com ódio o sentimento
mas sabem que é só magoa de ter que viver
limitado a apenas um desejo

acham que nessa vida
amor é só um
seja a um Deus
ou a um amante ideal
mas o amor é todo
é tudo
fingir que já não ama mais
porque um relacionamento acabou
é ilusão
não se deixe confundir com paixão

por vezes
amor não é querer ter perto
não se isso faz a pessoa infeliz
parte o coração quantos amores
vem e vão
pensar que podemos prender
acorrentar
isolar a pessoa numa cúpula
feita de nós mesmo
tolice
amor é o caminho para descobrir como amar
quanto mais praticado
mais facilmente se é compartilhado
e se aprende a perder para que possam ganhar

aprende-se a esperar

já amei tantos que sequer sabem
que virou um jogo ver quem descobre
mesmo que amor próprio pouco me sobre
só me preservo o suficiente
para que os sentimentos não desabem
não sei se é válido aguardar
tentar aos poucos encantar
se dedicar em um delicado castelo de cartas
sabendo que apenas um vento é necessário
para que novamente sobrem apenas
pó e traças

ninguém disse que seria fácil
ninguém disse que seria
ninguém sequer disse

é a maior experiência do nosso laboratório
é o maior negócio do nosso escritório

só sei que é preciso paciência
e continuar praticando

...

quebre a corrente

.

sábado, 10 de setembro de 2011

Fronteiras

Marcel Aymé - Le Passe Muraille


Engraçado como as vezes viajamos o mundo à espera de que,
quando votarmos, estará tudo diferente
Ou de que para onde formos nada será do mesmo jeito
Temos até a impressão de estarmos milhares de quilômetros distantes do que éramos
As vezes forçamos mudanças para ver se o mundo acompanha
Pior é quando o mundo muda e não acompanhamos
De qualquer forma nunca parecemos em sintonia, parte do todo
Corremos uma maratona para alcançar o ideal de mundo que criamos
Que supostamente voa e se transforma o tempo todo
Mas ele é sempre o mesmo, por mais que mudem alguns detalhes
Nossos olhos de barro moldados pelo passado ainda são os mesmo para ver o mundo
Tudo que vemos tem mais de nós do que o que realmente é

Talvez nos transformamos quando desistimos de mudar
Quando paramos de reparar se está ocorrendo ou não

O mundo pode mudar de forma quantas vezes for
Mas continuará sempre o mesmo enquanto permanecermos
Nossos desafios sempre parecerão os mesmos
Uma meta inalcançável
Porque esses desafios inexistiam
Nunca existiram paredes
Você atravessa o muro
Olha para trás
E não há muro
Nunca houve

.

Si + Se = 0



Quantas vezes não nos arrependemos
Não falo de atos muito importantes da nossa vida
Cada pequena frustração
Criada só pela bela possibilidade de um "se"
Em muitos lugares minha mente já me levou
As vezes esse raciocínio é um trampolim
Mas não o aplique ao futuro
A algo seu
Ou pior, ao passado
A ínfima ideia de que algo poderia ser diferente
É um terror sem fim
A pequena esperança de algo acontecer
É o inferno na terra
O poder de uma palavra que lacera os que pensam demais
Os que pouco pensam sequer sofrem desse mal
Não há brechas para conjunções subordinativas condicionais
Na prática não se elabora a teoria
Enquanto na teoria se pensa na prática
Cada vez mais é raro os que vivem de verdade
Os que sabem esquecer os "se"s
Os que não procuram condições
Não procuram desculpas
Não negam o passado
O passado que não é um lugar distante
Mas sim uma parte do presente
Um pedaço de si
Ou a falta dele
Esqueçamos os "se"s e lembremos mais de "si"
Pois o que somos não pertence as condições
As probabilidades
Elas que nos moldem
Não nós simulando elas
Deixar acontecer
Fazer parte da equação

Ser a resposta final

.