sábado, 28 de maio de 2011

Coração não é tão simples



É sim, ele pulsa.
Não é bem assim. É verdade ele pulsa, mas pulsa carregando em seus glóbulos cada partícula de oxigênio que um dia inalei de seu doce pescoço, o ar de cada respiração ofegante entre nossos beijos e o carbono que sobrou de nosso amor…

domingo, 22 de maio de 2011

Borboleta da dor, a senhora do medo



As vezes, simplesmente me encontro inerte. Sem pensar.
Tentando retirar os espinhos do meu coração.
E o máximo que consigo são espinhas estouradas.
Sentado no beiral da janela me vejo flutuando.
Sonhando acordado com o pesadelo do mundo real.
Pensando em como de vez em quando me sinto tão livre de tudo que pareço estar em queda livre.
Mas percebo o quão acorrentado que estou.
Ao medo da dor.
A mais forte de todas correntes.
Afinal sem a dor, o que mais há para se temer?
E ela nos prende. Nos impede. Acha, que  nos protege.
Estou preso.
Só me sobra jogar os dados e tentar tirar números iguais.
Mas parece que esse par nunca se forma.
"Cuide do seu jardim e as borboletas virão".
De que vale uma borboleta que pousa em suas pétalas e que um dia vai embora?
Prefiro uma bela flor plantada em minha terra.
Um grito de paz em meio a minha guerra.

Estou apenas flutuando, admirando o céu, sentado no beiral da janela.
Bom, deixe-me dormir, pois não quero ter que acordar.
     

sábado, 14 de maio de 2011

Um dia. Três outonos.


 
Ponho a blusa, desço as escadas e paro frente ao portão. Hesito.
Toda vez é uma longa viagem, pois o tempo para ao caminhar e se abre aos poderes do pensar.
Abro o portão, visto o gorro, as mãos se encontram no bolso canguru.
Está garoando e o frio corta meu ânimo. É hora de andar.
Olhando para cada visão obtusa dessa cidade apagada pela neblina me pergunto o que é este vazio que sinto.

O solstício de inverno parece ter chegado mais cedo, ainda é maio e por volta das cinco horas já está escuro.
Nada melhor do que a escuridão para nos trazer a luz mental.
Esse vazio não faz sentido.
Como posso sentir um vazio se aquela pessoa pouco fez para preenche-lo, e quando foi levou apenas as migalhas que deixara?
Talvez seja o medo que esses três anos me fizera esquecer, o medo de ficar sozinho.
Meus problemas não são o escuro, monstros, espíritos ou demônios. Sou eu mesmo.
A fina camada que foi tirada, como pó em fotos antigas, mesmo que pouco preenchida escondia um sentimento.

Ter ficado só esses meses, me fez lembrar das décadas de solidão.
Evito pisar na parte mais suja da calçada, como se a sola do meu tênis não pudesse causar morte por intoxicação, e quase trombo em uma árvore por tanto olhar pro chão.
A quem quero enganar. As vezes penso que fui usado, mas não fiz o mesmo eu também?
Você foi minha ilusão de que posso ser tudo isso que dizia. Te usei como uma droga.
Me viciei em você. Cada gota. Pensei que não conseguiria aguentar sem você toda a pressão.
Não consegui, mas não quer dizer que não aprendi com a abstinência. Não vou ficar como as folhas que ainda verdes estão caídas no chão, voando ao meu caminhar.
E aquela doce casa de joão de barro que agora jaz abandonada também não sou eu.

A ladeira é longa e íngreme e talvez assim tenha que ser, porque do topo poderei ver o caminho que percorri.
Não me arrependo de nada, nós dois nos usamos, e perto do fim eu aprendi realmente a te amar, mesmo que não tenha tido tempo de demonstrar.
Estou voltando para casa. O lugar que estava cedendo para outros que não queriam ficar.
De frente para mim, vejo como tantas garoas a fizeram ficar.
Vou começar a restaurar a fachada, quem sabe um dia não te convido de novo para entrar.