sábado, 23 de abril de 2011

Ser errante da lua



Um dia um ser de magnitude nula, desconhecido e sem nome, surgiu de uma gota de orvalho.
Se desenvolveu sob o brilho da lua e virou um cristal vagante, tentando descobrir o mundo.
Um tanto quanto cristalino e transparente, puro tinha um brilho e encanto.

Outros pequenos seres moldados de barro já não compreendiam aquela pequena forma que olhava o mundo com tanta sede, e quase não falava. Sempre observador.
Desde que era um homúnculo formado já sentia aos poucos sua forma refletir o entorno. Seu reflexo brilhar a partir de suas novas admirações e assim foi sendo moldado através do brilho dos outros. Aos poucos adquiriu uma forma multi-facetada totalmente diferente, fora dos padrões, mas nunca alcançava suas fontes de inspiração.

Vendo o quanto tais tentativas o trincavam foi se fortificando, criando alguns espinhos e camadas sobressalentes até que não vissem mais seu brilho. Sob o fogo de constantes atritos tomou nova forma e enquanto sentia-se maleável pela alta temperatura se focou em ser o perfeito receptáculo das chamas que o hipnotizavam, mas se esqueceu de sua própria reluzência. O fato só piorou... e aos poucos ele começou a rachar, e ruir.
Então de súbito passou a arrancar camada por camada de seu ser, a crosta escura que criara.

Em uma noite que não teve luar estirado sob uma poça ele reparara seu brilho voltando aos poucos ao perceber que alguém o queria ver brilhar. Mas a ironia da situação é que ele não conseguia dar o que tanto esperou de outros e ainda assim refletia fortemente o brilho de admiração por aquele ser brilhante, de formas obtusas e com alguns trincos, mas que não diminuiam sua luz.

Aparentemente os dois passaram por fogos parecidos, mutações semelhantes. Como um espelho ele se via ali, como outro. E então se levantou da poça no chão, e sempre por onde andou quando via seu reflexo lá estava o outro ser inspirador. Assim o pequeno ser retomou suas forças pela busca da brilhante lua no céu negro e cheio de núvens.
E lá estava ela, em sua totalidade, só lhe faltava pegar.

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