terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Inteligência Biológica do Fluxo da Vida



Nós não conseguimos nos ver parte da natureza, do planeta, de algo maior, mas esquecemos que somos seres pluricelulares. Somos células. Somos tão grande quanto o sistema que fazemos parte e simultaneamente tão pequenos quanto as partículas que nos compõem! A maior prova de que esse sistema existe. Nós somos parte de uma "inteligência" maior. Não falo de hiper realidade, deuses ou magia.
Nossa própria inteligência é biológica, evolutiva, toda mudança em nível de sociedade e intelecto dos indivíduos é evolução, nossos limites são delineados por nossas mutações, nossos talentos também.
Talvez as mutações aleatórias filtradas pela seleção natural não sejam tão aleatórias, talvez elas possuam um final, um conceito chave. Talvez nós o carreguemos no DNA como utopia, espelho do que seremos, queremos ser. Caberia ai Deus?

Ou seria apenas, e não por isso menos fascinante, a aleatoriedade, coincidências, uma grande experiência sem paradigmas, sem metas, então não caberia dizer os erros dela até que se revele o que sobrou, o que segue a frente. O fluxo das mudanças históricas é representativa de nossa evolução intelecto/biológica ainda acontecendo, de confronto com diferentes mutações, adaptações a diferentes ambientes, diferentes necessidades. E o nosso desejo, o que somos como indivíduos? Nossas crenças e visões de mundo?
Ainda acho que é pura combinação biológica de estímulos reativos ao mundo a nossa volta, fluxo de hormônios conectados por pequenos filamentos que processam tudo. Somos, maquinas, somos animais, somos seres reativos, somos o que cabe na vontade do tempo, da vida, do mundo, do universo.

O mais sensacional é ainda assim sermos capazes de "questionar" todas nossas amarras, pensar essa evolução, enxergar os trilhos, mesmo que seja apenas os que ficaram para trás, sermos capazes de idealizar os próximos passos, dar sugestões para a receita da próxima safra, de qual caminho seguir, mas não somos nós que escolhemos, bem sabemos, não ainda, talvez. Quem sabe um dia viremos maquinistas, mas isso chega a ser inimaginável, o que seria ter controle disso, criador ou manipulador desse poder extremo que é a vida, em níveis muito acima do que pensamos controlar hoje em dia, coisas que não cabem ainda a nossas percepções.

Ou somos nós criadores inconscientes, de universos a todo momento, por que aliamos poder a criação? Talvez ela também possa surgir de formas simplórias, de situações fortuitas, universos paralelos de pura imaginação. Cada um é um cientista, um artista, um criador de probabilidades, um gerador de resultados para essa grande pesquisa.
   

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um simples carvão



Está chovendo e quase não sinto as gotas por conta da profundeza do buraco. Olho para cima e me pergunto "quando foi que comecei a cavar?". Creio que tenha sido quando fiquei cansado de cuidar do meu jardim, quando comecei a pensar que debaixo da terra podia encontrar jóias raras.

Entretanto agora sequer tenho forças para continuar cavando.
A água escorre pelas laterais do fosso, arrastando terra junto com ela. Me encontro sentado, pensando na sorte de pedras preciosas que encontrei no caminho, apesar de nenhuma brilhar para mim; ou não tenha reparado devido a pouca luz.

Aqui nesta fundura a pressão é grande, são milhares de metros abaixo do nível do mar, minhas unhas estão todas em carne viva de tanto cavar. Sou gradativamente soterrado e empurrado cada vez mais para baixo, e a pressão continua a aumentar. É tanta que me sinto comprimir, solidificar e endurecer, tanto quanto diamante.

Mas quem iria cavar para me encontrar?
   

sábado, 5 de novembro de 2011

De saco cheio



No alto de um morrinho, perto de um barranco, algumas árvores para quebrar o vento, poucas nuvens para que saibamos que ainda existem, baixa luminosidade proveniente da cidade e lá no alto a abóbada celeste.
Apenas dois seres deitados admirando o céu e tentando imaginar a noção do quão longe estão as estrelas, e se provavelmente aquelas estrelas já estão mortas. É possível ver a curvatura da atmosfera e o tempo parece não existir, mas a lua está sempre lá.

Então, tanto faz.

.
    

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Deveras



Quantas coisas perdemos por medo de perder
E quantas não ganhamos quando temos coragem de viver
Quantas coisas não guardamos com o medo de esquecer
E as que abandonamos com medo de sofrer
Quantas coisas pensamos com medo de fazer
E quantas não enfrentamos com vontade de aprender
Quantas coisas não fazemos pelo erro de apenas querer
E as que deixamos passar por não compreender

Quantas vezes não dormimos com o medo do amanhecer
E quantas palavras não perdemos com o medo de dizer
Quantas vezes não sonhamos para não enlouquecer
E as vezes que não brilhamos com receio de apagar
Quantas vezes arriscamos sabendo que vamos perder
E quantas vezes travamos na hora de correr
Quantas vezes nos falta ar nos deixando envolver
E as vezes que na solidão ficamos a nos remoer

Quantas pessoas nos esperam sem ao menos saber
E quantas não se afastam por não nos entender
Quantas pessoas se perdem dominadas pelo prazer
E as que se escondem temendo seu poder
Quantas pessoas não se limitam com medo de se constranger
E quantas que conquistam pelo jeito de ser
Quantas pessoas se fragilizam que chegam até adoecer
E as que não arriscam com medo de doer

Quanto amor não desperdiçamos por medo de nos prender
Quanto amor?

Quantas?
Quantos?

...Por deveras

.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A distância de um olhar

Subway scalator - João Almeida


As vezes eu falo de ocasiões fortuitas
Falo de emoções instantâneas
Grandes aparições
Quando há uma grande surpresa

O engraçado é quando eu prevejo o futuro
E apenas confirmo tudo que descobri em teus olhos
Apenas reafirmo aquele reflexo meu que vi neles
E uma vez mais me vejo sem graça

Sempre parece que estou no lugar certo na hora errada
Parece que perdi meu trem o qual me levaria a ti
Como se eu tivesse descido na estação errada
Voltado e subido novamente
Mas acabo chegando atrasado
Por perder-me no caminho
Nos desencontrarmos por uma estação

E cá estamos
Nos olhando
Nos reconhecendo

Como se nos tivéssemos visto em um sonho distante
Uma lembrança vaga mais profunda que uma memória
Algo que eu fui, algo que tu fostes
Algo de nós como um projeto inacabado
A sombra de uma torre que nunca existiu
Senão nos sonhos

Senão no espaço indeterminado de um coração

Senão na imensurável distância de um pensamento

Nosso amor ficou preso no infinito
    

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Nó(s)



Ciranda maldita
Dança macabra
Quadrilha insana
Na qual nos perdemos
Ninguém vê os passos
Dançamos vendados
Todos ligados com todos
Cada um de uma forma diferente
O problema são os nós
Os nós que formam o todo
O eu+você
O eu+ela
Tudo fora de compasso
Mas ao som da mesma música
Dissincronia organizada
Todos dando as mesmas tropeçadas
Alguns se trombam
Outros se abraçam
Há aqueles que se quebram
E os que caem sobre seus cacos
Mas a dança não para
Até que se desatem os nós
Até que termine a música
O silêncio é a morte
   

terça-feira, 13 de setembro de 2011

PazCiência


The Burning Monk, by Michael Browne


difícil de lidar é o vício de amar
as pessoas reclamam que amam e desamam
nem compreendem o que sentem
eu sei que amo
vários detalhes de várias pessoas
mas não é paixão
sei muito bem o que é
essa armadilha
é amor
zelo
é querer cuidar, proteger, compreender
você pode deixar de me amar
mas infelizmente
o que eu sinto nunca vai mudar

na incompreensão do amor próprio ou alheio
as pessoas mascaram com ódio o sentimento
mas sabem que é só magoa de ter que viver
limitado a apenas um desejo

acham que nessa vida
amor é só um
seja a um Deus
ou a um amante ideal
mas o amor é todo
é tudo
fingir que já não ama mais
porque um relacionamento acabou
é ilusão
não se deixe confundir com paixão

por vezes
amor não é querer ter perto
não se isso faz a pessoa infeliz
parte o coração quantos amores
vem e vão
pensar que podemos prender
acorrentar
isolar a pessoa numa cúpula
feita de nós mesmo
tolice
amor é o caminho para descobrir como amar
quanto mais praticado
mais facilmente se é compartilhado
e se aprende a perder para que possam ganhar

aprende-se a esperar

já amei tantos que sequer sabem
que virou um jogo ver quem descobre
mesmo que amor próprio pouco me sobre
só me preservo o suficiente
para que os sentimentos não desabem
não sei se é válido aguardar
tentar aos poucos encantar
se dedicar em um delicado castelo de cartas
sabendo que apenas um vento é necessário
para que novamente sobrem apenas
pó e traças

ninguém disse que seria fácil
ninguém disse que seria
ninguém sequer disse

é a maior experiência do nosso laboratório
é o maior negócio do nosso escritório

só sei que é preciso paciência
e continuar praticando

...

quebre a corrente

.

sábado, 10 de setembro de 2011

Fronteiras

Marcel Aymé - Le Passe Muraille


Engraçado como as vezes viajamos o mundo à espera de que,
quando votarmos, estará tudo diferente
Ou de que para onde formos nada será do mesmo jeito
Temos até a impressão de estarmos milhares de quilômetros distantes do que éramos
As vezes forçamos mudanças para ver se o mundo acompanha
Pior é quando o mundo muda e não acompanhamos
De qualquer forma nunca parecemos em sintonia, parte do todo
Corremos uma maratona para alcançar o ideal de mundo que criamos
Que supostamente voa e se transforma o tempo todo
Mas ele é sempre o mesmo, por mais que mudem alguns detalhes
Nossos olhos de barro moldados pelo passado ainda são os mesmo para ver o mundo
Tudo que vemos tem mais de nós do que o que realmente é

Talvez nos transformamos quando desistimos de mudar
Quando paramos de reparar se está ocorrendo ou não

O mundo pode mudar de forma quantas vezes for
Mas continuará sempre o mesmo enquanto permanecermos
Nossos desafios sempre parecerão os mesmos
Uma meta inalcançável
Porque esses desafios inexistiam
Nunca existiram paredes
Você atravessa o muro
Olha para trás
E não há muro
Nunca houve

.

Si + Se = 0



Quantas vezes não nos arrependemos
Não falo de atos muito importantes da nossa vida
Cada pequena frustração
Criada só pela bela possibilidade de um "se"
Em muitos lugares minha mente já me levou
As vezes esse raciocínio é um trampolim
Mas não o aplique ao futuro
A algo seu
Ou pior, ao passado
A ínfima ideia de que algo poderia ser diferente
É um terror sem fim
A pequena esperança de algo acontecer
É o inferno na terra
O poder de uma palavra que lacera os que pensam demais
Os que pouco pensam sequer sofrem desse mal
Não há brechas para conjunções subordinativas condicionais
Na prática não se elabora a teoria
Enquanto na teoria se pensa na prática
Cada vez mais é raro os que vivem de verdade
Os que sabem esquecer os "se"s
Os que não procuram condições
Não procuram desculpas
Não negam o passado
O passado que não é um lugar distante
Mas sim uma parte do presente
Um pedaço de si
Ou a falta dele
Esqueçamos os "se"s e lembremos mais de "si"
Pois o que somos não pertence as condições
As probabilidades
Elas que nos moldem
Não nós simulando elas
Deixar acontecer
Fazer parte da equação

Ser a resposta final

.    

sábado, 28 de maio de 2011

Coração não é tão simples



É sim, ele pulsa.
Não é bem assim. É verdade ele pulsa, mas pulsa carregando em seus glóbulos cada partícula de oxigênio que um dia inalei de seu doce pescoço, o ar de cada respiração ofegante entre nossos beijos e o carbono que sobrou de nosso amor…

domingo, 22 de maio de 2011

Borboleta da dor, a senhora do medo



As vezes, simplesmente me encontro inerte. Sem pensar.
Tentando retirar os espinhos do meu coração.
E o máximo que consigo são espinhas estouradas.
Sentado no beiral da janela me vejo flutuando.
Sonhando acordado com o pesadelo do mundo real.
Pensando em como de vez em quando me sinto tão livre de tudo que pareço estar em queda livre.
Mas percebo o quão acorrentado que estou.
Ao medo da dor.
A mais forte de todas correntes.
Afinal sem a dor, o que mais há para se temer?
E ela nos prende. Nos impede. Acha, que  nos protege.
Estou preso.
Só me sobra jogar os dados e tentar tirar números iguais.
Mas parece que esse par nunca se forma.
"Cuide do seu jardim e as borboletas virão".
De que vale uma borboleta que pousa em suas pétalas e que um dia vai embora?
Prefiro uma bela flor plantada em minha terra.
Um grito de paz em meio a minha guerra.

Estou apenas flutuando, admirando o céu, sentado no beiral da janela.
Bom, deixe-me dormir, pois não quero ter que acordar.
     

sábado, 14 de maio de 2011

Um dia. Três outonos.


 
Ponho a blusa, desço as escadas e paro frente ao portão. Hesito.
Toda vez é uma longa viagem, pois o tempo para ao caminhar e se abre aos poderes do pensar.
Abro o portão, visto o gorro, as mãos se encontram no bolso canguru.
Está garoando e o frio corta meu ânimo. É hora de andar.
Olhando para cada visão obtusa dessa cidade apagada pela neblina me pergunto o que é este vazio que sinto.

O solstício de inverno parece ter chegado mais cedo, ainda é maio e por volta das cinco horas já está escuro.
Nada melhor do que a escuridão para nos trazer a luz mental.
Esse vazio não faz sentido.
Como posso sentir um vazio se aquela pessoa pouco fez para preenche-lo, e quando foi levou apenas as migalhas que deixara?
Talvez seja o medo que esses três anos me fizera esquecer, o medo de ficar sozinho.
Meus problemas não são o escuro, monstros, espíritos ou demônios. Sou eu mesmo.
A fina camada que foi tirada, como pó em fotos antigas, mesmo que pouco preenchida escondia um sentimento.

Ter ficado só esses meses, me fez lembrar das décadas de solidão.
Evito pisar na parte mais suja da calçada, como se a sola do meu tênis não pudesse causar morte por intoxicação, e quase trombo em uma árvore por tanto olhar pro chão.
A quem quero enganar. As vezes penso que fui usado, mas não fiz o mesmo eu também?
Você foi minha ilusão de que posso ser tudo isso que dizia. Te usei como uma droga.
Me viciei em você. Cada gota. Pensei que não conseguiria aguentar sem você toda a pressão.
Não consegui, mas não quer dizer que não aprendi com a abstinência. Não vou ficar como as folhas que ainda verdes estão caídas no chão, voando ao meu caminhar.
E aquela doce casa de joão de barro que agora jaz abandonada também não sou eu.

A ladeira é longa e íngreme e talvez assim tenha que ser, porque do topo poderei ver o caminho que percorri.
Não me arrependo de nada, nós dois nos usamos, e perto do fim eu aprendi realmente a te amar, mesmo que não tenha tido tempo de demonstrar.
Estou voltando para casa. O lugar que estava cedendo para outros que não queriam ficar.
De frente para mim, vejo como tantas garoas a fizeram ficar.
Vou começar a restaurar a fachada, quem sabe um dia não te convido de novo para entrar.
         

sábado, 30 de abril de 2011

Átimo



Quando poderei ter o que preciso por inteiro?

Não apenas um floco que cai solitário
Não apenas uma lembrança
Não apenas uma fatia
Não apenas um caco

Por que não posso ter algo por completo?

Não apenas um momento de sua atenção
Não apenas um sorriso educado
Não apenas um recado
Não apenas um lapso

Queria um mar e não apenas um grão de areia da praia

Não apenas ser mais um estranho
Não apenas uma opção
Não apenas um detalhe
Não apenas mais um

Mas não posso ter nada por inteiro!
Sequer a mim mesmo e meus desejos
Tão pouco meu pensamento focado o tempo inteiro

Não quero apenas estar, mas ser, mesmo que seja sem querer
Não quero tudo, apenas um pouco mais
Pelo menos algo completo nesse quebra cabeça,
que faça a imagem toda fazer sentido

Já me satisfaço com parte desse cubix montado,
mas está tudo embaralhado

Perdi um pedaço,
uma parte que ficava no meio do peito,
sequer me lembro o nome.

Deve estar por ai em algum lugar,
com esse algo que pode me completar...

.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Comet's Path



De onde surgiu você?
Estrela cadente de uma noite sem estrelas.
As vezes me pergunto se existem coincidências.
As vezes tenho certeza. Nas outras vezes não concluo, apenas aprecio.
Não quero limitar uma experiência.
Mas por que logo hoje? Céu sem luar, não há nuvens, e exatamente para onde olho... está você.
Não procurava por nada, talvez por isso encontrei.
Como uma fenda de luz cortando a calmaria do meu olhar distante, surgiu.
Acompanho até sumir com um brilho no horizonte.
O que foi isso?
E agora?
Basta apenas esperar, ou sigo o caminho apontado por esse astro cadente?
As vezes as coisas acontecem tão de repente...

.

sábado, 23 de abril de 2011

Ser errante da lua



Um dia um ser de magnitude nula, desconhecido e sem nome, surgiu de uma gota de orvalho.
Se desenvolveu sob o brilho da lua e virou um cristal vagante, tentando descobrir o mundo.
Um tanto quanto cristalino e transparente, puro tinha um brilho e encanto.

Outros pequenos seres moldados de barro já não compreendiam aquela pequena forma que olhava o mundo com tanta sede, e quase não falava. Sempre observador.
Desde que era um homúnculo formado já sentia aos poucos sua forma refletir o entorno. Seu reflexo brilhar a partir de suas novas admirações e assim foi sendo moldado através do brilho dos outros. Aos poucos adquiriu uma forma multi-facetada totalmente diferente, fora dos padrões, mas nunca alcançava suas fontes de inspiração.

Vendo o quanto tais tentativas o trincavam foi se fortificando, criando alguns espinhos e camadas sobressalentes até que não vissem mais seu brilho. Sob o fogo de constantes atritos tomou nova forma e enquanto sentia-se maleável pela alta temperatura se focou em ser o perfeito receptáculo das chamas que o hipnotizavam, mas se esqueceu de sua própria reluzência. O fato só piorou... e aos poucos ele começou a rachar, e ruir.
Então de súbito passou a arrancar camada por camada de seu ser, a crosta escura que criara.

Em uma noite que não teve luar estirado sob uma poça ele reparara seu brilho voltando aos poucos ao perceber que alguém o queria ver brilhar. Mas a ironia da situação é que ele não conseguia dar o que tanto esperou de outros e ainda assim refletia fortemente o brilho de admiração por aquele ser brilhante, de formas obtusas e com alguns trincos, mas que não diminuiam sua luz.

Aparentemente os dois passaram por fogos parecidos, mutações semelhantes. Como um espelho ele se via ali, como outro. E então se levantou da poça no chão, e sempre por onde andou quando via seu reflexo lá estava o outro ser inspirador. Assim o pequeno ser retomou suas forças pela busca da brilhante lua no céu negro e cheio de núvens.
E lá estava ela, em sua totalidade, só lhe faltava pegar.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Divã

Dialogue by Doc Ross


Comecemos nossa consulta.
O que gostaria de começar falando?
Me diga o que te aflige.
Outros sabem desse seu estado?
...
Desde quando você sente esses sintomas?
Onde foi a primeira vez que reparou neste fato?
Isso sempre aconteceu contigo?
...
Alterações no seu humor?
Mas você acha que não tem mais controle sobre isso?
Aponte o local onde as dores são mais intensas.
Realmente, seu caso é terminal.
    

quinta-feira, 10 de março de 2011

Tear



Já amei,
E amar-ei,
Amarrei,
Dei nó e laço,
Embaraço,
Sem espaço,
Mas eu solto,
Estico,
E fico.

Um corte,
Sem sorte,
A morte,
Sem ponta,
Desmonta,
Desencontra.

...mas ainda tem muito fio

  

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Com.Fuso

Michal Macku - Gellage No.6


Discordo de tudo
Não concordo com nada
Não faz sentido, em absoluto
Discordo de cada palavra
E afirmo em resoluto
Conheço a hipocrisia
Em cada verso devoluto
Simplesmente não consigo
Concordar comigo

.