segunda-feira, 31 de maio de 2010

Reflexo


Um jovem palhaço acorda de um sonho. Pálido corre se vestir e por a maquiagem. Traveste-se de Arlequim, enfrentando a ordem das coisas; ele tenta mudar. A passos largos anda confiante, pois sabe que tem Colombina a seus pés. Anda até o espelho e ainda se vê Pierrot, mas não perde o entusiasmo, a inocente colombina acredita piamente que ele é um Arlequim. Anda sobre as nuvens mesmo sabendo que é impossível voar.

Em tamanha insensatez, de Colombina ele passa a duvidar: Seria ela realmente Colombina?
Aqueles que usam máscaras em ninguém conseguem confiar. Inquieto e suspeito, todos os dias a pergunta: E hoje tu me amas? - E ela respondia: Claro meu querido! 
Desconfiado da resposta rápida ele exclama: Então me prove!

A cada novo encontro a jovem tentava provar de uma maneira diferente, e a cada nova tentativa se tornava mais confusa sobre seu verdadeiro sentimento. A verdade é que Pierrot perguntava-lhe algo que não queria ouvir a resposta, pois carregava em si a certeza de que era impossível alguém amá-lo. Pierrot em seus delírios platônicos não sabia o que era amor. A cada novo dia que perguntava tentava compreender do que se tratava, e a cada exemplo que Colombina dava, Pierrot aprendia sobre o que ignorava.

Colombina aos poucos, de tanto sugada por Pierrot, só via nele frieza e já não se achava mais em seus olhos, se perdera na busca incansável de alguém que não estava lá. Ela amava o vazio, ou talvez apenas uma máscara. O encanto havia acabado. Pierrot surpreso tirara sua falsa imagem de Arlequim, para ser com sua amada mais sincero, ouvindo em resposta: Eu sempre soube.

Sentado pensativo, borrando toda maquiagem, lembrou que sempre fora Arlequim e que na verdade apenas em seu sonho ele fora Pierrot. Percebeu então quão inútil fora toda essa encenação, mas agora já era tarde demais ele se tornara definitivamente o que via no espelho.

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