sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Do pó viestes e ao pó retornarás


Encerramento, fim, conclusão

Cronômetro chega a zero
Tempo de perder e se assumir um perdedor
Irremediável conclusão do que passou
Não olho para trás, não existe nada
Não penso no tempo como uma sequência de quadros
A nossa própria memória nos mostra que nada é tão definido depois que não é mais presente
E o que está presente? Fisicamente próximo, o suficiente. Qual suficiente?
I'm tired of being a loser one

Essa proximidade não existe mais, os laços se soltam, o magnetismo se perde
Me perco no meio de tantas perdas, eu sou um perdedor
Mais um dos nascidos com a sina da solidão, riscado como individual
Pelo menos não sou o único sozinho

Que assim seja
Queimo meus arquivos
Não tenho nada; nunca tive, ainda mais agora

É triste e também irônico
Mas precisamos perder tudo pra perceber que nunca obtivemos nada

Somos livres

...e apenas isso

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

C.H.E.



Mais um dia termina...

Deitado na cama sente seu fluxo interno
O sangue é um veneno quando pulsado por um coração doente
Passa feito magma pelas veias cansadas sem porque
Ardendo e se arrastando arduamente, rompendo o caminho estreito
Dor incalculável, imensurável, pois já não é exatamente física
Os batimentos se tornam mais pesarosos e dolorosos
A frieza transformou o magma em pedras pontiagudas
O peso é enorme, o peito afunda
O pulmão se esvazia
Os olhos se fecham

...mais uma tentativa

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C.H.E. - Combustão Humana Espontânea
  

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A.morf



Mudei muito
depois de te conhecer
Mudei ainda mais
depois de te perder

A cada fase eu me transformo
A cada decepção um soco no espelho da desilusão
A cada soco novos trincos se formam em meu reflexo

Já não me reconheço mais
O que jaz no espelho já não possui minha forma
Não mais a que antes conhecia
Os cacos confundem minha imagem

E já não sei mais quem sou
Não tenho forma
Não tenho
Não

IRA




Sigo andando, ouvindo murmúrios tolos de seres incoerentes
Insignificantes...
!
Quero gritar, mas não consigo
Sangra a garganta com a bola de espinhos infinita desse cotidiano inútil
Pessoas vazias, vidinhas de merda
Cobertas com seu orgulhoso excremento
Bando de estrumes ignorantes e mesquinhos
Ainda reclamam do cheiro que a cidade reflete
Deviam é morar nos esgotos tropeçando em si mesmos e balbuciando suas idiotices
Escrotos imundos, ridículos miseráveis, resto do que um dia foi a humanidade
...Olho para os lados
?
De repente, um sinal de positivo saindo da janela de uma van
Apenas uma criança, coração puro e inocência, sem qualquer motivo, e um sorriso no rosto
Talvez ainda tenhamos esperança...
       

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Reflexo


Um jovem palhaço acorda de um sonho. Pálido corre se vestir e por a maquiagem. Traveste-se de Arlequim, enfrentando a ordem das coisas; ele tenta mudar. A passos largos anda confiante, pois sabe que tem Colombina a seus pés. Anda até o espelho e ainda se vê Pierrot, mas não perde o entusiasmo, a inocente colombina acredita piamente que ele é um Arlequim. Anda sobre as nuvens mesmo sabendo que é impossível voar.

Em tamanha insensatez, de Colombina ele passa a duvidar: Seria ela realmente Colombina?
Aqueles que usam máscaras em ninguém conseguem confiar. Inquieto e suspeito, todos os dias a pergunta: E hoje tu me amas? - E ela respondia: Claro meu querido! 
Desconfiado da resposta rápida ele exclama: Então me prove!

A cada novo encontro a jovem tentava provar de uma maneira diferente, e a cada nova tentativa se tornava mais confusa sobre seu verdadeiro sentimento. A verdade é que Pierrot perguntava-lhe algo que não queria ouvir a resposta, pois carregava em si a certeza de que era impossível alguém amá-lo. Pierrot em seus delírios platônicos não sabia o que era amor. A cada novo dia que perguntava tentava compreender do que se tratava, e a cada exemplo que Colombina dava, Pierrot aprendia sobre o que ignorava.

Colombina aos poucos, de tanto sugada por Pierrot, só via nele frieza e já não se achava mais em seus olhos, se perdera na busca incansável de alguém que não estava lá. Ela amava o vazio, ou talvez apenas uma máscara. O encanto havia acabado. Pierrot surpreso tirara sua falsa imagem de Arlequim, para ser com sua amada mais sincero, ouvindo em resposta: Eu sempre soube.

Sentado pensativo, borrando toda maquiagem, lembrou que sempre fora Arlequim e que na verdade apenas em seu sonho ele fora Pierrot. Percebeu então quão inútil fora toda essa encenação, mas agora já era tarde demais ele se tornara definitivamente o que via no espelho.

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